“a tua piscina tá
cheia de ratos /
Tuas idéias não
correspondem aos fatos /
O tempo não para/
Eu vejo o futuro
repetir o passado /
Eu vejo um museu de
grandes novidades/
O tempo não pára...”
No “longínquo” Brasil da década
de 90 o ex – presidente Fernando Collor de Melo recebera duras críticas, mais
que merecidas diga-se de passagem, no sentido de que seu “slogan” de campanha no qual avocava para si o título de “caçador
de marajás” teria destoado de forma irremediável das práticas concebidas nos porões
da casa da Dinda.
A história se desenrolou e deu no
que deu: o primeiro Presidente eleito na história da República do Brasil por
meio do sufrágio universal, após um famigerado histórico de golpes de estado (tanto
de direita quanto de esquerda) desde a fundação da República em 1.889, renuncia
para não ser decretado formalmente seu “impeachment”,
tudo na tentativa frustrada de não ter seus direitos políticos cassados.
Ocorre que após quase 30 anos da inauguração
do pacto democrático com a promulgação da Constituição da República, os ratos
ainda não foram retirados da piscina.
Aliás: a sensação que se tem hoje
é que furtaram a própria piscina.
Da mesma forma, após quase três
décadas, o discurso ainda não foi alinhado à prática, as idéias ainda não
correspondem aos fatos.
O discurso da Constituição da
República de 1.988 nada tem a ver com a realidade vivida. A tão sonhada igualdade
não é nem de longe avistada. A República ainda é República de privilégios e de
foros privilegiados. Existem hospitais, escolas, cargos, oportunidades
especialmente reservados apenas para alguns semi - deuses. A cultura da
desigualdade e da diferenciação é vista em todos setores explicitada por
exemplo sem pudores na estratégia dos bancos, públicos e privados, os quais percebendo
o perfil de seus clientes, criaram setores e agências separadas e exclusivas para
seres superiores escolhidos conforme sua renda. A que ponto chegamos...
Não seria muito melhor se todos
pudessem acessar todos os serviços essenciais igualmente e que todos pudesse
ser atendidos plenamente independentemente de sua renda ou posição social?
Entretanto a sociedade brasileira em geral não gosta da igualdade, gosta
sim do privilégio, da diferenciação, da entrada VIP, do camarote, do banco prime, stilo, van gogh, do condomínio de
luxo, etc... é esse ideário que se construiu nos primeiros anos desta República,
por isso somos tão miseráveis.
Ontem, no plenário da Câmara dos Deputados, vivemos mais uma vez os tempos nostálgicos da
República Velha no qual uma oligarquia governava a seu bel prazer e os anseios do
povo pouco importavam. Mais de 80% da população desejava que o Congresso
permitisse que a Justiça cumprisse seu papel.
Deram de ombros aos justos anseios das ruas.
A sensação que ficou para este
país que foi a última nação do mundo a abolir a escravatura, que foi vítima de
duas ditaduras recentes; que gritou “Diretas já”; “Fora Collor”, “Fora Dilma” e
“Fora Temer” é a de que a nossa piscina de fato foi levada embora há alguns
anos pelos marajás de Don Fernando Collor, e que na rota de fuga deixaram para
trás ratazanas prenhas, que proliferaram e se adaptaram ao ácido ambiente da
hipocrisia no qual se prega e se pregará sempre o Brasil como país do futuro,
no qual se deve por amor à pátria deixar de punir os culpados no presente em
nome da estabilidade econômica futura, tudo considerando que o tempo não pára e
que seu transcorrer milagroso e prescricional curaria todas feridas, transformando o Brasil num grande museu do
futuro, o qual sempre repete o passado.
Murilo Nogueira